Uma editora que nasce às vésperas do fim do mundo, não tem certeza de muita coisa, mas já estava prenhe de vir ao universo antes que o tarde a alcançasse.
Vem para dar lugar aos gritos (sons, palavras) que, até agora sufocados, precisam ganhar rumo, sob pena de serem soterrados – o que seria uma injustiça sem fim.
Quem sabe a editora não se agregue às “ideias para adiar o fim do mundo”? Ou, quem sabe, ganhe corpo e acelere os fatos.
De maneira geral, ampla e irrestrita, publicaremos obras que inspirem, que sejam meios para agitações intelectuais e culturais, que forneçam e sejam instrumentos cognitivos e estéticos para a livre criação, fruição, politização. Obras que olhem e expressem o Brasil profundo e o profundo humano.
Trabalhamos na aventura de criar condições para a visibilidade do pensamento e da imaginação. Por isso, estamos comprometidas com alternativas de produção editorial que desafiem a lógica perversa do mercado.
A Tucum é uma editora independente que publica obras com qualidade curatorial e editorial.
Cada livro é pensado em conjunto com a autora ou o autor. Juntos escolheremos a melhor forma de publicação, divulgação e distribuição.
A Editora é também um laboratório de experimentações. Desenvolve projetos de pesquisa e produção de materiais que traduzam as aspirações das curadoras e de suas parcerias.
O desejo da Tucum é ver escritoras e escritores felizes com a publicação de seus livros, ampliar a circulação e o acesso à leitura no país. Queremos reavivar a palavra nos seus sentidos mais caros.
Conheça o catálogo da editora.
As imagens de tucum usadas no site são oriundas da obra Flora Brasiliensis, publicada na Alemanha entre 1840-1906, por Carl Friedrich Philipp von Martius, August Willhelm Eichler e Ignatz Urban. wwww.plantilustrations.org
Pindorama, terra mítica tupi-guarani, significa Terra das Palmeiras. E, entre o mito e o fato, três amigos – uma filósofa-poeta, uma historiadora-gestora e um biólogo-escritor – decidiram se aventurar pelo universo das editoras independentes.
Ao som da palavra TUCUM foram se achegando diferentes significados, conferindo sentido à ideia. O tucum é uma palmeira com caules múltiplos, repleta de espinhos. Cresce em áreas úmidas e perturbadas, em solos arenosos, drenados e de baixa fertilidade. É comum na região nordeste da Amazônia, no Suriname, na Guiana Francesa. E nos estados brasileiros do Maranhão, Pará e Tocantins.
Tucum significa “agulha de costura”. Dessa palmeira de Pindorama, uma população distinta retira fios de seda para fiar tramas e redes variadas. Fios coloridos com outras plantas do entorno, produzindo artefatos que oferecem beleza aos olhos e descanso ao corpo.
Desde muito, diferentes grupos indígenas da região norte se utilizam do tucum para artes variadas. O tucum é tão importante que dele emergiu a narrativa indígena “Mito do Tucum”, sobre a origem da noite. É no tronco do tucum onde vivem e de onde saem o “Mestre Tucumã” e os “Surrupiras”, para animar e limpar os rituais afro-ameríndios do Tambor de Mina e de outras Encantarias do Maranhão e do norte do país. A linha do tucum, firme e forte, costura também a cultura religiosa do Santo Daime, fundada no Acre pelo maranhense Mestre Irineu Raimundo Serra. No Santo Daime, há um hino com o nome “Linha do Tucum”, uma invocação de proteção. Um canto de cura, amor, lealdade e verdade entre os irmãos.
Não bastasse o ressoar do nome na cultura do Brasil profundo, também numa “linha” da Igreja Católica encontramos um simbolismo relacionado ao tucum. Inspirados nos adornos de indígenas e afrodescendentes, religiosos católicos ligados à Teologia da Libertação, assumiram o “anel de tucum” como símbolo do seu vínculo com as lutas sociais. Uma joia de enlace e compromisso, símbolo de amizade e de luta ao lado dos marginalizados.
Seguindo o fluxo do som, da cultura e das tradições, tucum também possui a grafia ticum. Tikum, em hebraico, significa “conserto, reparação da alma”. Na cabala, “tikun olam” significa “reparar o mundo, consertar o mundo”.
Os significados recuperados aqui embasam a nossa escolha pelo tucum como fonte de inspiração e suporte de um projeto profundamente enraizado. Física e etereamente aterrados, mas não enterrados. Das raízes queremos nos direcionar ao sol, ao entorno, ao outro, ao coletivo, ao novo, ao necessário, ao urgente. Ao ínfimo, íntimo, infinito.
Editora na Tucum
Possui graduação e mestrado em comunicação social, com doutorado em filosofia.
Editora na Tucum
Historiadora, com pesquisas sobre pensamento social brasileiro e atuação na área de museus e patrimônio cultural.
Editor Colaborador na Tucum
Texto de Referência: Rafael Noleto.
No Brasil, temos mais de uma palmeira conhecida como tucum. Uma delas é a Bactris setosa, cujos frutos possuem casca escura. Outra espécie é o Astrocaryum vugare, com frutos mais alaranjados.
A palavra tucum, ou ticum, derivada do tupi, significa “agulha”. Povos indígenas da Amazônia deram-lhe esse nome porque costumavam usar seus espinhos para costurar. As fibras sedosas dessa palmeira de Pindorama se prestam à tessitura de tramas e redes variadas. Tingidas com o pigmento de outras plantas fios se convertem em diversos artefatos, oferecendo repouso ao corpo e beleza aos olhos.
O tucum também se consagra ao mito. No princípio dos tempos, a noite não existia no mundo, pois era guardada por uma enorme serpente no fundo das águas. A filha da Cobra Grande, prestes a se casar, pediu-lhe de presente a noite, para proteger a intimidade com o seu amado no dia do casamento. Relutante, a mãe acabou cedendo ao pedido da filha.
Três mensageiros, enviados pelo noivo, navegaram pelo rio até a morada da Cobra Grande, com a missão de levar a noite até o casal. A senhora da noite entregou-lhes um coco de tucum lacrado com cera de abelha, ordenando que jamais rompessem o lacre.
No meio do caminho, no entanto, os três mensageiros, ouvindo estranhos ruídos no interior do coco tucumã, resolveram abri-lo. Desobedecendo à proibição, derreteram a cera, libertando a noite que inundou o dia.
A filha da Cobra Grande ficou muito irritada. Para castigar os três mensageiros, transformou-os em macacos de boca preta e risco amarelo. A mancha amarela representava a cera, e a escura, a fumaça desprendida. A noiva precisava descobrir uma solução para separar novamente a noite do dia. Por isso, quando a estrela solar surgiu no céu, em plena madrugada, ela criou pássaros para anunciar cada fase do dia.
Para o amanhecer foi criado o pássaro cujubim. Para o cair da noite, foi criado o inhambu.
Assim, quando a noite foi solta no mundo, o tucum primordial, receptáculo que guardava imenso poder, originou um tucum escuro como a noite e outro claro como o dia.
No imaginário mítico e religioso afro-ameríndio da encantaria maranhense, o guardião do tucum é o Rei Surupira ou Mestre Tucunzeiro, que rege a família dos encantados conhecidos como surrupiras. Essas entidades, que fazem morada no interior do tucum, manifestam-se nos ritos de tambor de mina e terecô, seres bravos que agitam e abraçam as folhas e caules espinhosos do tucum.
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