Barbara está vivendo a crise dos seus 35 anos. Em busca de uma nova vida na velha cidade do Rio de Janeiro, refugia-se no apartamento daquelas irmãs, tão comoventes e tão originais. O apartamento fica no 13o. andar do Edifício Pena Brilhante, em Kupa Kawana. Aquelas irmãs pareciam as próprias guardiãs do tempo, imersas numa vagueza, hiper-reais, hiperconscientes, imbuídas do aqui-agora, e muito além. A história tece alguns episódios do passado de Barbara para então acompanhar seu mergulho nessas existências fraternas – ao mesmo tempo queridas e repulsivas. Um livro tropical fantasmagórico para devorar emoções sutis. O dentro do lado de fora, o fora do lado de dentro. Um livro mãe, um livro rito, um livro fágico. Cinco mulheres, cinco infinitos. Pelas ruas da urbe castigada, mordendo as raízes ancestrais. Relógios quebrados e verbos parados no ar. As cinco suspensas. Gastando sua poesia. Górgonas contemporâneas. Estabilizadas sobre o abismo.
Comprem estas almas baratas…
ALMAS À VENDA! NHAC, NHAC, NHAC…
(Djanira de Andrade)
Trecho do Livro:
Era a primeira vez que Barbara subia ao topo do prédio. Observava as cordilheiras avançando inertes pela geografia da cidade. A vasta superfície do mar soltava uma gordura que a deixava ainda mais brilhante e artificial. O azul das águas vacilava num degradê de cinzas até cair numa cor enegrecida para os fundos do oceano. A escuridão crescia em volta das janelas. Não se via naquele momento nenhum rosto à espreita embora se adivinhassem os tantos corpos para dentro daqueles cômodos. Barbara deixou-se abandonar ao seu próprio negrume interior quando, desaparecida a realidade exterior, transformou-se numa sensação incorpórea aquilo que deveria ser ‘uma vida inteira, digna e sentida’ mas que, naquele momento, não passava de um fugaz pressentimento etéreo e obscuro.